Impotência significa nos drogarmos contra a nossa vontade.


Vamos interpretar essa assertiva à luz das escrituras sagradas nos remetendo ao livro de Provérbios, capítulo 23:29,35.

      29   Para quem são os ais? Para quem os pesares? Para quem as pelejas? Para quem as queixas? Para quem as feridas sem causa? E para quem os olhos vermelhos?

            Se você é um adicto, um dependente químico, sabe responder a estas perguntas. Os ais são para as perdas. Inicialmente perdem-se coisas:
-Ai! Meu tênis de marca! Meu celular! Meu I-Pod!
            Depois as perdas sociais:
-Ai! Minha faculdade! Meu emprego! Meu casamento!
            E as perdas continuam, perde-se a dignidade, a vergonha e a capacidade de se indignar com tantas perdas. Agora somos motivos de pesar. Para quem os pesares? Os pesares são inicialmente para os amigos magoados, alguns poucos desgostosos de assistir a ruína de alguém que um dia fora querido, para um bom patrão que lamenta a perda de um bom funcionário. Para quem as pelejas? As pelejas são para a família que luta para não perder o irmão, o filho, o marido, o pai, que é rapidamente devorado por um inimigo poderoso e cruel. Para quem as queixas? Talvez as mais numerosas: os vizinhos, os credores, os traficantes, os inimigos, os falsos amigos, toda a turba do consumo e do mundinho onde o adicto se arrastou e gastou até o seu último centavo irão queixar-se dos seus vícios. Para quem as feridas sem causa? Para os pais que sentem na própria carne a morte em vida do filho querido, que sofrem a desilusão de ver os sonhos de um futuro brilhante virar fumaça, virar pó, virar pedra. E para quem os olhos vermelhos? Para todos os que tiverem a capacidade de amar um adicto, de verem um ente querido adoecer da moléstia da dependência química.

30   Para os que se demoram perto do vinho, para os que andam buscando vinho misturado.

            Mas os que mergulham na dependência, que vivem e vivenciam a adicção ativa, sofrem todos os ais. Acumulam em suas almas a dor das perdas, a dor dos pesares, a dor das pelejas, a dor das queixas, a dor das feridas e choram por todas elas, é ele sem dúvida a grande, a maior vítima de todo o calvário da sua própria doença, pois ele é o doente.


31   Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente.

            O forte apelo do vício sempre se manifesta em cores fortes e efeitos especiais. Não fite os olhos da serpente, não ouça o canto das sereias. Não se permita ser atingido pelos dardos envenenados do inimigo das nossas almas e nem ser capturado no laço do passarinheiro. Aconteça o que acontecer, não use! Satanás tenta o adicto criando em sua mente a ilusão de que a “lombra” trará alívio às dores existenciais: a cerveja estupidamente gelada, a droga “da massa”, o “natural”, a “nervosa” e outros atributos espetaculares e fantasiosos utilizados pelo pai da mentira para persuadir o adicto a tomar a primeira dose.

32   No fim, picará como a cobra, e como o basilisco morderá.

            É da natureza dos animais peçonhentos picarem a sua vítima, é uma insanidade esperar que o basilisco seja cordial, ele atacará sempre e de novo. Não se engane! Não existe relação pacífica com as drogas, em pouco tempo o seu veneno lhe contaminará e tudo aquilo que até então você pensava só acontecer com os outros, passará a acontecer com você.

(Gên 3:1)  Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. E ela perguntou à mulher: "Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim’? "

                Para o senso comum a adicção é muitas vezes comparada a pouca vergonha, de fato o adicto vem a se envergonhar das conseqüências do seu uso, mas a obsessão que o leva a primeira dose é de origem psicótica e, pessoalmente, concordo com a hipótese metafísica ou sobrenatural da possessão. Já ouvi narrativas fantásticas e vivi experiências igualmente extraordinárias. Em síndrome de abstinência a mente do adicto cria situações que o levam ao ambiente propício ao uso, mesmo quando a sua consciência diz ao contrário. Quanto maior a resistência, mais justificativas inusitadas e sincronicidades maléficas o cercam. É como um transe hipnótico, o indivíduo sabe que não deve ir a determinado lugar, conviver com determinadas pessoas, mas cria situações que aparentemente o obrigam a tomar a decisão errada. Ex: “Pô! Hoje eu não queria ir ao Beco, mas tem um evento legal...” O evento é absolutamente irrelevante, mas o adicto não admite, sua mente nega a dependência e ele jamais admitirá ter se movido em direção a droga deliberadamente, é sempre obra do acaso, que para sua infelicidade se repetirá todas as vezes que ele se expor às pessoas, lugares e hábitos da sua drogadicção.


33  Seus olhos verão coisas estranhas, e sua mente imaginará coisas distorcidas.

            Os delírios provocados pelos diversos tipos de drogas têm algo em comum: privam você do discernimento, confundem-lhe a alma. O crack ,especialmente, provoca paranóias terríveis. Alguns adictos têm visões demoníacas, são atormentados pelos seus fantasmas mais medonhos, quase sempre são “nóias” de perseguição, pânico, medo da morte, culpa. É muito comum ver o “noiado” se esconder atrás de portas, embaixo de camas, aterrorizado pela presença do inimigo. Os céticos afirmam ser ilusão, e é de fato uma manifestação incorpórea, mas o inimigo é real, o inimigo das nossas almas é sub-reptício e diante da exposição fragilizada da vítima se prevalece. Há aqueles que ouvem vozes e ficam atentos a diálogos impertinentes e repetitivos, ouvem maus conselhos, constroem estórias fantasiosas carregadas de elementos nefastos como traição, perseguição, lascívia, acusação e culpa.

1Pe 5:8  Sejam sóbrios e vigiem. O diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar.


Prv 23:34  Você será como quem dorme no meio do mar, como quem se deita no alto das cordas do mastro

            A convivência no ambiente de drogadicção é um abismo que chama outro abismo. Uma vez picado pelo basilisco, o adicto se submete a compulsão. A necessidade de uma nova “pancada” arrasta o louco por caminhos tortuosos, e tocado pela tempestade navega sem rumo, não há distância nem limite, não há risco nem barreira ética que cerceie a busca. Favelas, becos, más companhias, ambientes de alto risco, nada impedirá o dependente de prosseguir. Dias e noites se passarão sem ele notar, ele estará possuído, amarrado, à deriva, sujeito apenas a sua falta de sorte e a Misericórdia de Deus.

Prv 23:35  E dirá: "Espancaram-me, mas eu nada senti! Bateram em mim, mas nem percebi! Quando acordarei para que possa beber mais uma vez? "

                 Quando enfim suas forças estiverem esgotadas, vem a “rebordosa”. Um lampejo de sobriedade o faz ver a sua própria miséria. Dependendo do seu grau de dependência e a profundidade da sua decadência ele admitirá sua impotência diante da drogadicção e pedirá ajuda, ou entrará num processo de autocomiseração negando o real e transferindo para uma esfera exterior à sua enfermidade as causas da sua desgraça e nela permanecerá, é possível, e não raro, uma trégua momentânea para recuperar as forças e em alguns casos o poder de compra, mas ele voltará a usar.

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